sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Guardanapo

Ela saiu de trás de uma coluna vermelha, desbotada, descascando sua tinta e bem no meio de toda aquela confusão. Virou-se delicadamente, tudo em câmera lenta, fechou seu celular e olhou diretamente em meus olhos. Um momento surreal, uma mágica explícita do desejo. Minas pernas ficaram leves de mais para o restante do meu corpo.

Não conseguia desviar dela, bebi mais um pouco daquela cerveja parada, acendi um cigarro chinelo, único que vendiam no bar. As pessoas falavam comigo e eu apenas murmurava algo, queria dizer para calarem a boca e me deixarem sozinho. Gente sem consideração, rindo alto e tentando abraçar a todos. Me larga, sai do lado, vai pra pista, me deixa.

Havia tantas pessoas entre nós, e uma enorme incerteza de chegar até lá.
Nervoso sai à procura de um guardanapo. Aproximei-me do balcão do bar, muitas pessoas penduradas nele. Mínima atenção a mim, sempre achei que não tivesse cara de quem tem grana, não desperto o interesse dos garçons. Me debrucei sobre o balcão e estiquei o braço até alcançar um guardanapo, aproveitei para pegar uma caneta que estava ali do lado.

Senhorita que és tão bela
Tua serenidade me faz imaginar
Teu olhar me provoca desejo
Súbito desejo com apenas um olhar
Não consigo chegar mais próximo
Te deixo um beijo demorado
E uma grande vontade.

Passei por ela e entreguei em suas mãos o guardanapo rabiscado, não tive pudor nem de olhar em seus olhos novamente. Sai do bar e deixei pela primeira vez meu amor pra trás.

Nenhum comentário: